As chuvas dos últimos dias têm retomado as discussões em relação aos eventos climáticos extremos, refletidos em transtornos que acarretaram enchentes, inundações e deslizamentos. Esses fenômenos meteorológicos não são novidade, assim como diversos outros, que têm ocorrido com maior frequência e/ou intensidade, devido a mudança climática.
Os altos índices pluviométricos no Sudeste atingiram diversas cidades levando-as a decretar estado de emergência e/ou calamidade pública, em especial em Belo Horizonte o volume atingiu marcas históricas desde a implementação da medição no estado mineiro, há 110 anos. Segundo meteorologista do Inmet, Sr. Olívio Bahia do Sacramento Neto, o volume acumulado na capital mineira está entre os maiores registrados no Estado.
As consequências socioambientais exigem ações para minimizar seus reflexos, para isso, são utilizados diversos estudos como instrumento de base para o desenvolvimento de projetos eficientes. Entretanto, quando esses estudos e/ou pesquisas não são levados a sério, pode comprometer todo o processo, colocando em risco a população. Nos países desenvolvidos como os Estados Unidos, França, Japão, Canadá e Alemanha, além dos estímulos às pesquisas, ampliou-se o investimento em fundos para situações emergenciais oriundas de desastres sócio naturais e, nestes quesitos, o Brasil segue na contramão da percepção dos efeitos das mudanças climáticas.
Com as perspectivas de mudanças climáticas, os cientistas, pesquisadores, estudiosos, profissionais do seguimento, políticos e governantes do mundo inteiro estão buscando compreender as causas e consequências destas mudanças que poderão afetar a população e seus sistemas socioeconômicos. Em 2016, Way Carbon em parceria com a prefeitura de Belo Horizonte realizou um estudo que indicava um aumento de 32% na vulnerabilidade da cidade às mudanças climáticas em relação a fenômenos ligados a chuva intensas e uma ampliação de áreas favoráveis a incidência de doenças como a dengue até 2030, também potencializada pelas chuvas.
Em muitas cidades brasileiras é notório o baixo investimento em ações de prevenção, inviabilizando a eficácia da infraestrutura urbana em relação a obras de drenagem e escoamento, vistorias de terrenos em áreas de risco e atualização de mapeamentos de vulnerabilidade, transferindo a responsabilidade das consequências para a população ou até mesmo para o “sobrenatural”. Inversamente proporcional à velocidade do aumento dos desastres, estão as políticas de prevenção que caminham a “passos muito lentos”, deixando uma lacuna além dos dados já citados, a preparação da população e a divulgação de procedimentos para reduzir riscos.
Ainda que citados no Plano de Contingência, é importante que os abrigos e locais de acondicionamento de recurso estejam preparados para estes fins antes do período crítico, que a população tenha conhecimento destes locais e treinamento adequado de forma a ter maior adesão, em menor tempo.
Diante de tudo o que vimos e estamos vendo, é imprescindível que a população deixe de sofrer passivamente e torne-se protagonista no que diz respeito a propostas e elaborações de políticas públicas voltadas para a prevenção de desastres sócio naturais, corroborando com a notoriedade das causas e consequências de forma a evitar a banalização dos fenômenos. Que sejamos agentes de mudanças e multiplicadores de ações em prol do bem comum.
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