Anualmente, o período chuvoso traz a incerteza e o medo de inundações e/ou enchentes para diversos lugares do país, exigindo a efetivação de sistemas de alerta e alarme, a implantação de planos eficientes e, caso necessário, uma resposta rápida para atender possíveis atingidos.
Em muitos casos o alagamento está ligado ao lixo depositado em locais que interrompem o escoamento de chuva (como os bueiros, ralos e outros recursos que tem a finalidade de dar vazão) ou em rios, onde afetam diretamente o seu fluxo. Esses fatores somados à falta de infraestrutura e ao grande volume das chuvas são, via de regra, causadores de – novas - ocorrências.
O volume das chuvas são um fator imprescindível na compreensão das causas e consequências, tanto que em estudos para o desenvolvimento de projetos de bocas-de-lobo, galerias, e estruturação de rios e córregos em área urbana, normalmente utilizam-se a recorrência de chuvas para o dimensionamento, usando os dados relativos ao volume de chuvas de 50 a 100 anos. Porém, o que ocorreu nos últimos dias em Belo Horizonte foi um raro fenômeno conhecido como a “chuva de mil anos”, evento que normalmente acontece em espaços de tempo longo (“mil anos”) apresentando um excepcional volume de chuvas em curto período. Devido às mudanças climáticas, estima-se que poderá haver a diminuição das lacunas entre as chuvas de mil anos
É no período das chuvas que as ações de prevenção são colocadas à prova, inserindo a população como parte fundamental do processo de Proteção e Defesa Civil de forma a assegurar a redução dos impactos quando as medidas preventivas forem insuficientes ou ineficientes. Transformando a população vulnerável em agentes de proteção comunitária: mantendo-se informados sobre condições e alertas meteorológicos, identificando locais de risco tanto de mobilidade (como avenidas e ruas que costumam transitar), quanto onde residam e, caso seja identificado que sua moradia esteja em locais de risco, então será exigido do poder público que, nos primeiros sinais de temporais, sejam criados mecanismos que garantam a segurança de sua família e de seus bens.
Na região Sudeste, o mês de janeiro, normalmente, é um período chuvoso, entretanto nada se compara com o ano de 2020 que se inicia, na Capital Mineira, com a possibilidade de ultrapassar as médias históricas. O grande volume de chuvas corroborou com a adoção de medidas preventivas para evitar tragédias com perdas humanas, como o fechamento de vias com maior probabilidade de inundações. Realmente, a medida limita o fluxo de veículos no local, todavia não reduz as possíveis consequências para a população que mora nesta região.
A devastação causada pelas enchentes e inundações não são as únicas consequências, temos ainda, o aumento de acidentes causados por afogamentos, lesões corporais e choques elétricos e, após o recuo das águas, o problema não cessa, com o alto risco de contaminação resultante da exposição da população a água contaminada. Se não bastassem todos os transtornos causados por este desastre, a água cria um campo propício também para a proliferação dos vetores de doenças como ratos e mosquitos, além de picadas de animais peçonhentos (aranhas, escorpiões e cobras).
Portanto, os estragos causados pelas chuvas transpõem a ocorrência em si, gerando consequências mesmo no pós evento como: doenças, prejuízos e a incerteza de que será feito e se será, necessitando de investimentos, treinamento e preparos.
Quando as primeiras gotas caem do céu, milhares de pessoas que vivem em áreas de risco ficam à mercê, temendo por suas próprias vidas, as de seus parentes e amigos e preocupados em proteger os bens pelos quais lutaram “uma vida” para adquirir. Entretanto, assim que a chuva cessa não acabam seus problemas e, de todos eles, há ainda, com resiliência, de se voltar para o mesmo lugar e aguardar que, em algum momento, os governantes lembrem-se deles.
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