No dia 05 de novembro de 2015, famílias que viviam no sossego de suas propriedades, rodeados de natureza, de seus familiares e amigos, crianças brincando pelas ruas tranquilas, onde se plantava alimentos consumidos no cotidiano. Como um trovão, o som estrondou e uma onda de lama fez com que a realidade se tornasse incerteza, e sua história vivida fosse paralisada. Quatro anos após a tsunami de lama que atingiu mais que distritos e ecossistemas, comprometeu sonhos e planos, mudando o rumo de muitas vidas.
Destas vítimas, muitas deixaram para trás seus projetos, dentre elas encontramos aqueles que não tiveram nem tempo de sonhar deixando uma marca apenas em seus familiares que nem a conheceram, ficando apenas com os exames da gravidez, a expectativa de como seria e a indignação de não ser reconhecida como vítima o bebê que nem chegou a nascer.
Sabemos que nem tudo poderá ser substituído e, mesmo com a dor, devemos seguir em frente, nunca esquecendo o que aconteceu na Primaz de Minas. Ressaltando que é de suma importância os aprendizados para que não ocorra novos episódios e que os danos sejam reparados, como as indenizações que ainda não ocorreram para todos (Segundo o Ministério Público de Minas Gerais, somente 10% dos atingidos de Mariana receberam indenização).
Muitos deixaram suas raízes, perderam sua história e se apegaram a fé (que na ocasião teve seus símbolos atingidos através da destruição de igrejas e artes sacras), mas sem que houvesse a perda de sua identidade. Algumas igrejas se tornaram Patrimônios Culturais após a passagem da lama, com a destruição as obras que foram localizadas estão sendo restauradas para tentar dar “lembranças” de parte do que foi tirado deles, e apresentando para outros o quanto de riqueza foi enterrado.
Com o passar destes anos, alguns guerreiros ficaram pelo caminho. Lutaram um bom combate, mas não conseguiram ver novamente os rios limpos, as matas verdes, as casas dos novos vilarejos construídas. Inclusive, a construção deste vilarejo proposto pela Empresa iniciou suas atividades, mas contrariando as expectativas dos atingidos, tendo a previsão de conclusão apenas em agosto de 2020.
Nessa trajetória a história tomou novos rumos: heróis sem capas que voaram de pássaro de ferro e outros que de longe vieram também assistiram vítimas se tornarem vilões aos olhos de muitos, sendo responsabilizadas em alguns casos pelos desempregos ou pela –quase- falência da mineração.
Apesar dos 6,68 bilhões de reais investidos pelas empresas envolvidas, através da Fundação que administra os recursos na bacia do rio Doce e em seus 113 afluentes, vários rios ainda precisam de tratamento e há necessidade do reflorestamento de diversas áreas.
A tragédia em Mariana trouxe diversos prejuízos para os atingidos diretos, mas também para o povo Marianense como um todo. As perdas transcenderam os distritos, refletindo na geração de empregos, na manutenção da cultura, no desenvolvimento da economia, no meio ambiente impactado, entre muitas outras que ainda são vividas até hoje, mesmo por aqueles que não reconhecem a origem.
A retomada da cidade parte de diversas questões que vão além do “Volta Samarco”, mas de criação de postos de trabalho, diversificação econômica, a reparação, e uma reconstrução de uma sociedade sem vínculos a uma única fonte mantenedora. Desta forma, renascendo uma nova Mariana, para seu povo e junto dele, aprendendo com as consequências da tragédia mas nunca deixando de esquecer o que aconteceu, como muito bem dito por alguns atingidos: “Não foi acidente!”.
Portanto, a cidade começa a mostrar sinais de um recomeço, e a empresa também a partir da liberação da licença de operações aprovada pela Câmara de Atividades Minerárias do Copam demonstrando seguir uma nova formatação com o propósito de gerar mais segurança. Agora aguardamos o recomeço dos principais afetados: vidas, rios, matas e a reconstrução de seus lares.
Douglas, surpreendendo como sempre com excelentes textos.
Tenho um amigo Cristão, amigo mesmo, que tbm tem uma coluna de escritos e áudios bíblicos mais que no fundo no fundo ele não consegue trazer vida ao que escreve.
Já você num assunto tão delicado e complexo consegue extrair nuanças de quem vive e contextualiza com vivacidade transmitindo um refrigério a estes moradores que foram devastados pois eles de fato dizem a verdade! Não foi um acidente foi um crime pois a matéria do jornal de 1h de 05.11.2019 da Rede Globo entrevistou o Diretor da (ANM) Agência Nacional de Mineração que expôs em novo relatório que a Mineradora omitiu dados que demonstrariam os sinais de ruptura de parâmetros normalidade desta barragem.