A cidade pacata de Barão de Cocais - na região Central de Minas Gerais - com pouco mais de 32 mil habitantes, sofre os reflexos de uma “lama invisível” (como os moradores chamam a sensação que paira no município desde a elevação para nível 3 de segurança da barragem de rejeitos da mina de Gongo Soco) gerando uma mistura de insegurança e medo.
A incerteza afeta diretamente a SAÚDE da população, prova disso é que somente na semana que era previsto o possível rompimento, três pessoas enfartaram, além de casos que foram noticiados pela Secretaria Municipal de Saúde, citando o aumento de 60% (6.000 mil atendimentos a mais no setor) apenas com a ameaça do rompimento. Dentre as principais causas temos a angústia, ansiedade, insônia, pânico e a depressão, afetando adultos e crianças.
O reflexo desta situação é representado em todas as conversas e na MUDANÇA DE HÁBITOS da população, retratado inclusive em brincadeiras de crianças como o demonstrado em um vídeo divulgado recentemente. Nele, crianças moradoras da cidade, derramavam água em um buraco feito no chão até que ela transbordasse e o barro escorresse em direção aos carros e caminhões de brinquedo, aí então com helicópteros, simulavam o salvamento que ocorreria, como em caso de um rompimento real. Além da mudança na vida daqueles que temem perder seu LAR e sua rotina, 458 moradores das comunidades do entorno da barragem completam quatro meses de moradia em hotéis e casas alugadas.
A evacuação de comunidades tira espaços carregados de elementos que antes dava sentido ao seu povo e ricos de CULTURA mantido por COSTUMES historicamente estabelecidos, além da perda de elementos simbólicos, rituais, hábitos, linguagens e tantos outros, comprometendo a identidade local.
Em um ponto, na tentativa de manter a FÉ e a TRADIÇÃO, bandeirinhas enfeitam o pátio do Santuário de São João Batista, em outro ponto, a incerteza da realização da tradicional festa de Nossa Senhora Mãe Augusta de Socorro, comemorada há mais 300 anos. O aumento de atendimentos feitos por líderes religiosos também é notado no que se refere a crenças religiosas, conforme afirmado por um pastor que descreve a situação da cidade como agonizante.
A insegurança compromete SERVIÇOS ESSENCIAIS, fechando agências bancárias, Correios, algumas lojas e afetando o comércio que ainda resiste com quedas de até 50% nas vendas (segundo alguns comerciantes), contribuindo no abalo SÓCIO ECONÔMICO e gerando problemas no turismo. Para minimizar os graves impactos, empresários decidiram manter suas lojas abertas apesar dos prejuízos e oferecer promoções a fim de manter o mínimo de vendas possível e garantir os EMPREGOS.
No dia a dia da população da pacata cidade, foram inseridos simulados, implantação de sirenes, carros de som para orientar em caso de emergências, marcação de ruas que estão no possível trajeto da lama, placas de sinalização de evacuação, pontos de encontros e, atualmente, o vai e vem de caminhões, tratores e máquinas que avançam, inclusive em propriedades particulares, após mandado judicial. A ação Judicial sita ainda risco de multa diária de R$ 100 mil caso o proprietário não cumpra a determinação.
Portanto, mesmo não havendo o rompimento, os impactos são evidentes, demonstrando a gravidade da situação causada mais uma vez por barragens no Estado. Ainda que para muitos o não rompimento da barragem cessa o problema, os fatos são claros e retificam os riscos e os resultados. Situações como estas inviabilizam a existência de comunidades, obrigando a saída de locais que antes era único lar conhecido por estas pessoas, transformando esses lugares em potenciais campos de extração e lucro para empresas como as causadoras dos desastres. Desta forma, punindo muito mais aqueles que já são vítimas da sombra do que pode acontecer.
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