Quando um desastre toma as manchetes dos noticiários, a comoção e a solidariedade misturam-se em um único sentimento demonstrado de várias formas, na tentativa de aliviar o sofrimento daqueles que foram afetados.
No último dia 15 de abril o mundo se sensibilizou com o incêndio da Catedral de Notre-Dame, na França que em 14 horas pôs abaixo 850 anos de construção, arte e história. Mobilizados pela relevância do fato, milionários se dispuseram a doar, juntos, cerca de 680 milhões de dólares para sua reconstrução. Dentre eles, está a brasileira Lily Safra que doou 10 milhões de euros. Infelizmente, não houve o mesmo ímpeto em se solidarizar com um evento muito parecido no Brasil, dia 03 de setembro do ano passado, quando o Museu Nacional foi tomado por um incêndio que consumiu de dinossauros nunca identificados a línguas extintas. O local já foi residência de um rei e dois imperadores e possuía um acervo de 20 milhões de itens. Para este, foram arrecadados apenas R$ 1,1 (sendo R$ 142mil de pessoas físicas e R$ 15mil de pessoas jurídicas, e do exterior veio a maior quantia, só o governo alemão doou cerca de R$ 800 mil e o British Council, da Inglaterra R$ 150 mil) para sua reforma.
Com a baixa arrecadação financeira também sofrem as vítimas do ciclone e das chuvas que varreram o sudeste da África no mês de março afetando mais de 2,6 milhões de pessoas e acarretando mais de 750 mortes. Baseados neste e em outros tantos dados, podemos notar que os desastres mobilizam doações por identificação, seja por perfil, língua, crença, ou outros fatores.
Mas também notamos que existem diversas formas de ajudar, como as ações humanitárias que são bem conhecidas pelo povo mineiro devido aos rompimentos de barragens – como em Brumadinho e Mariana- quando o povo brasileiro se envolveu através de doações e voluntariado de diversos locais. Por identificação com suas próprias dores, o Estado de Minas Gerais convocou militares do Corpo de Bombeiros para auxiliar nas operações de busca de vítimas na África.
Quando tratamos de donativos, temos a forma mais comum de manifestar solidariedade que somente em Mariana foram arrecadadas 200 toneladas de roupas, 232 toneladas de alimentos e 422.320,30 litros de água mineral, já em Brumadinho foram 27 toneladas de alimentos, 2 toneladas de roupas e 159 mil litros de água mineral, e em virtude da crise política de nossos “hermanos” Venezuelanos, o Brasil se propôs enviar em fevereiro 200 toneladas de suprimentos. Devendo se atentar as demandas, pois não basta ter volume, mas sim a quantidade e o tipo de donativo capaz de atender de forma satisfatória suprindo as necessidades.
Normalmente temos um grandioso número de voluntários e de donativos, devido a notória solidariedade do povo brasileiro. Entretanto, como o joio no meio do trigo, encontramos entre as boas doações alimentos com validade vencida, roupas e materiais sem qualquer condição, além pessoas com o intuito apenas de tirarem aproveito (conhecidos como “turistas de desastre”), nos fazendo crer que estas foram movidas apenas pelo auto promoção e não por causa humanitária.
Medir a doação por fronteiras, crenças, raças e outra forma, é segregar e limitar a capacidade de olhar o próximo sem diminuir a dor daqueles que sofrem. Devemos ter em mente que todos estão sujeitos a situações que podem gerar danos a si, amigos e/ou familiares, somos todos vítimas em potencial e a solidariedade é o instrumento capaz de mudar a realidade e quebrar paradigmas. A doação não pode ser restrita ao envio de materiais em bom estado de uso e/ou para consumo (limpos e aptos), nem tão pouco restrito apenas aos seres humanos, sendo tão importante ou prioritário doar minutos de atenção para ouvir um desabafo, respeitar estranhos e pessoas com pensamentos e atitudes diferentes, exercitando a empatia e olhando os demais ao seu redor.
Comentários